Entrevista a Peter Villax
1. Como têm vivido, as empresas familiares, os momentos difíceis que a economia portuguesa tem atravessado nos últimos anos?
Da mesma forma que todas as empresas, já que as Empresas Familiares operam no mesmo ambiente macroeconómico. Uma característica é talvez mais saliente, a forma como enfrentam momentos mais difíceis, e essa é a prudência que demonstram nas decisões de investimento e de emprego.
2. Investir é fundamental para o desenvolvimento de médio e longo prazo das empresas. Como caracteriza a realidade presente das empresas familiares em termos da variável investimento?
Depende muito dos seus mercados. As que estão ativas nos mercados internacionais sentem menos a crise e têm avançado com projetos de investimento. O que está a condicionar mais essas decisões é a atitude do governo e dos seus parceiros, que não olham de forma positiva para as empresas. A confiança no governo e nas suas políticas e a estabilidade das leis e da tributação fiscal são essenciais para decisões de investimento, e essas dimensões têm sofrido.
3. Na sua opinião as empresas familiares portuguesas preparam bem a sucessão? Que conselho daria aos membros de uma família que esteja a viver um processo de sucessão na empresa?
Varia. Algumas empresas acham que é um problema que acaba por se resolver, e essa visão é aquela que leva aos maiores dissabores em termos de sucessão. Trata-se de um processo que tem de ser iniciado largos anos antes da passagem de testemunho, para dar tempo ao novo responsável para aprender a desempenhar as suas funções de liderança. Ao contrário, aquelas empresas que preparam uma sucessão sólida e consensual e partilham o processo com todas as partes interessadas são aquelas que em geral conseguem ter sucesso na sucessão.
4. O mundo vive uma verdadeira revolução tecnológica relacionada com a Economia Digital. As empresas familiares estão preparadas para os desafios da “digitalização”? Como perspetiva a interligação das roturas e alterações de paradigma que esta economia digital está a provocar com a atitude mais estável e conservadora associada à gestão familiar dos negócios?
Não me parece que a TMG, a Delta, a Nutrinveste ou o Grupo Luís Simões tenham uma gestão conservadora, muito pelo contrário. Prudente é muito diferente de conservador: prudência é saber tomar decisões que se se revelarem erradas não arrastam a empresa para a falência; gestão conservadora é tomar o menor número possível de riscos.
Quanto ao desafio da economia digital, as empresas familiares no geral têm o mesmo nível de preparação e abertura que todas as outras, pelo que a distinção deve ser feita não entre empresas familiares e não-familiares, mas entre aquelas que são inovadoras e abertas à mudança e aquelas que enfrentam a mudança de forma reativa – só mudam quando são mesmo obrigadas a mudar.
Ora reagir ao mercado dá-nos menos solidez financeira do que termos nós a iniciativa de criar as condições para criar novos produtos e novas oportunidades.
Das duas uma: ou criamos o nosso próprio futuro, ou ele vira-se contra nós.