Numa empresa familiar "pensa-se a longo prazo"

Em Portugal e em Espanha, a sucessão é uma das maiores preocupações das empresas familiares. Companhias do país vizinho têm feito internacionalização a partir de Lisboa e Porto.

Avocação de permanência no tempo é um dos elementos diferenciadores da empresa familiar. Mas passar o negócio de uma geração a outra é também um dos seus maiores desafios e uma das grandes preocupações que partilham estas empresas, independentemente do seu lugar de origem. Cuidar do cliente e dos trabalhadores, a sustentabilidade, a inovação e a excelência operacional estão nas prioridades destas firmas.

Nesta semana, em Cáceres, realizou-se o encontro anual do Instituto da Empresa Familiar (IEF) de Espanha e Portugal foi convidado de honra, com os empresários de ambos países a trocar experiências e inquietações comuns. E uma das preocupações mais focadas foi a sucessão, conforme testemunhou o Dinheiro Vivo.

Estima-se que em Espanha 1,1 milhões de empresas são familiares, 89% do total, sendo responsáveis por 67% do emprego privado, com mais de 6,58 milhões de trabalhadores, e garantindo 57,1% da riqueza (PIB) produzida. Só as 100 que compõem o IEF, líderes nos respetivos setores, dão trabalho a 1,1 milhão de pessoas no mundo, faturam 172 mil milhões de euros e geram um valor acrescentado bruto de 44,5 mil milhões de euros à economia. Em Portugal, estudos recentes estimam que 70% a 80% do tecido empresarial seja composto por empresas familiares, que geram 65% do PIB e 50% do emprego total.

“As nossas empresas representam a criatividade, a iniciativa, a perseverança e a valentia de pessoas que, em algum momento, tiveram uma ideia distinta para atender melhor uma necessidade da sociedade”, sublinhou Andrés Sendagorta, presidente do IEF, no congresso. “Nelas trabalham pessoas comprometidas com o seu país e a sua sociedade, que querem construir melhores empresas e contribuir para uma sociedade melhor”, juntou.

“Onde há uma empresa familiar há futuro, pensa-se a longo prazo. Está demonstrado que há mais estabilidade de emprego neste tipo de companhias”, explica ao DV Esteban Sastre, diretor de Economia do IEF. Também Peter Villax, presidente da Associação das Empresas Familiares de Portugal, sublinha que o desafio principal de todas as empresas é crescer. “No que respeita à empresa familiar, os desafios colocam-se em dois níveis: o familiar e o negócio em si”, explica ao DV. “A empresa familiar é, em muitos casos, a projeção da família no negócio” e isso pode ser positivo ou negativo. Razão pela qual a associação defende que “as famílias que gerem negócios deem particular atenção a situações que podem gerar conflitos e que procurem isolar por completo a empresa dos problemas familiares”.

Sendo a sucessão um dos pontos mais importantes para um empresário familiar, “é preciso escolher muito bem, transmitir os valores e fazer entender o teu propósito”, indica Esteban Sastre. Quanto mais longevo é o projeto, “mais recorres a conselheiros externos”. Como lembra Villax, “o fundador tem a grande obrigação de assegurar um processo de sucessão que seja claro, transparente e na medida do possível, quando houver vantagem, alargar a participação aos outros membros da família”.

Portugal na mira das empresas familiares de Espanha

Para muitas das hoje grandes firmas espanholas familiares, Portugal tem sido o ponto de início de um trajeto de internacionalização bem sucedido. É o caso, por exemplo, da Inditex, que abriu a sua primeira loja no estrangeiro na Rua Santa Catarina, no Porto. Outras, como a marca de joias Tous, têm em Lisboa um dos seus mais emblemáticos espaços – no caso, na antiga ourivesaria Aliança, na Rua Garrett, edifício considerado monumento de interesse público. “Esta loja marcou um antes e um depois para Tous em Portugal”, confirma Rosa Tous, vice-presidente corporativa daquela companhia.

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